Desapocalíptico: Poema do Toque (poema de: VALENTIM, Maciel)

Poema do Toque (poema de: VALENTIM, Maciel)



A ele, nada atribuímos. Não mesmo.
Ele só nos serve para mudar o quente do frio,

o áspero do lívido, o ríspido do suave.
Ele é o mais desprezado dos cinco.

Pois não deveria.

Não conferimos valor a ele.
Conferimos ao não-ele. À falta dele.
Só se quer água quando não a tem.
Só queremos um afago, quando não temos a quem.
Ou de quem.

A voz. A que mais se ouve, também é esquecida.
É deixada para a memória, que cumpre seu papel.
No entanto, ela não é largada como o sentir o outro.
Como a troca reflexiva da ação de tocar.

Ver o invisível.
Ouvir o inaudível.
Provar o insipiscível.
Cheirar o cheiro horrível.

Não és tu que foste.
Foi apenas seu veículo de contato.
Do qual devia ter abusado.
Saberia, eu, lá quando seria tolido de fazê-lo.

Versos são a maneira mais fraca,
E a mais derramada!,

de se contar um pensamento,
um gânglio,
uma bomba sódio-potássio.

Eles traduzem fielmente,
fracamente, mas rígidos;
morbidamente, mas lívidos;
dramaticamente, mas líricos!,
a contradição do que se pensa,
vê,
ouve,
cheira,
prova... ou
Toca.

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